O bairro foi se constituindo, planejadamente, no início do século XX pra abrigar a burguesia, os quatrocentões. Por está em uma das regiões mais altas da cidade, nasce carregando em seu nome todo o peso das teorias higienistas do século XIX. Higienópolis - do grego higienis + pólis = cidade da higiene - ou seja, quanto mais alto, mais limpo, menos risco de doenças. E até hoje, mais de um século depois, a ideia higienizadora da nova velha elite paulistana habita aquele bairro que, não quer saber de metrô em seus domínios para manter limpinha sua cidade da higiene!
Andando
pelo bairro ontem, a caminho do lançamento do livro "Golpe de Estado"
do querido Palmério Dória e Mylton Severiano, algo me chamou a atenção. Lá tem
uma rua que se chama Pará, que é logo depois da rua Maceió. Passando a
rua Pará, chegamos à Sergipe, na sequência à Alagoas, à Piauí e à Maranhão. Todos
estados do Nordeste brasileiro, certo? Errado. Só o paulistano, provavelmente
os da cidade da higiene é que, acreditam que o Pará é no Nordeste. Só que não!
Das duas uma: ou eles ignoram sumariamente a existência da região Norte - que
não é com M - do Brasil, ou se acham tão poderosos e "diferenciados"
que simplesmente resolveram que o Pará é Nordeste. E que assim seja! Talvez
todas as suas gerações tenham faltado em massa a todas as aulas de geografia
política das suas vidas.
Além
dos estados nordestinos que já mencionei anteriormente, exceto o Pará que É NO
NORTE, o bairro conta ainda com as ruas Ceará, Pernambuco e Bahia, também Nordeste;
Rio de Janeiro e Minas Gerais, Sudeste; Mato Grosso e Goiás, Centro-Oeste. Há
época em que o bairro se constituía, o Brasil era ainda muito regional. O
integralismo estava em pauta no país. Era imperativo homenagear os principais
estados e cidades, principalmente os do nordeste. Povo que tanto contribuiu
para a construção da cidade que nunca dorme, mais cresce e recebe a todos de
braços abertos. Daí a existência de uma rua que se chama Pará, em meio aos
estados nordestinos em plena Cidade da Higiene!